Hepatites virais: O custo oculto e como a gestão inteligente pode virar este jogo 

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Categoria: Qualirede

Tradicionalmente, o “Julho Amarelo” é lembrado como o mês de prevenção e conscientização das hepatites virais, com foco em alertar a população sobre testagem, vacinação e tratamento. 

Mas para as operadoras de planos de saúde e empresas de gestão, o Julho Amarelo deve ser muito mais do que divulgar mensagens de prevenção. É o momento estratégico para auditar fluxos, revisar indicadores e fortalecer processos internos que realmente impactam a sinistralidade futura. 

Um cenário que ainda exige vigilância 

De 2000 a 2023, o Brasil registrou 785.571 casos confirmados de hepatites virais — sendo 40,6% de hepatite C, 36,8% de hepatite B e 21,8% de hepatite A, segundo o novo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde (2024). 

Mesmo com a queda das taxas de hepatite B (redução de 42,8% entre 2013 e 2023) e a discreta redução da hepatite C (atualmente em 7,6 casos por 100 mil habitantes), o cenário ainda preocupa: 75,9% dos óbitos relacionados a hepatites são causados pela hepatite C. 

O que isso mostra? Que testagem e tratamento existem, mas muitos pacientes ainda vivem anos sem diagnóstico — ou não aderem ao tratamento. O resultado: complicações graves, custos altíssimos e uma fatura que recai, silenciosamente, sobre as operadoras de saúde. 

Onde a gestão faz diferença: dados, fluxos e decisões 

Planos de saúde detêm uma vantagem única: dados clínicos, autorizações e processos de auditoria integrados. Na prática, isso significa uma oportunidade concreta de detectar gaps assistenciais. 

  • Exemplo prático: cruzar exames alterados de função hepática (ALT/AST) com a ausência de pedidos de sorologia específica para hepatites B ou C. 
  • A auditoria clínica ativa pode identificar rapidamente pacientes que iniciaram, mas abandonaram o tratamento antiviral, permitindo intervenções antes que a doença evolua. 

Cenário real: o peso silencioso na conta assistencial 

O que os números falam? 

  • Um paciente com hepatite C não tratado pode evoluir para cirrose ou hepatocarcinoma, exigindo internações com custo médio acima de R$ 20 mil por evento, segundo dados do SUS. 
  • Na saúde suplementar, um transplante de fígado ultrapassa R$ 500 mil, sem considerar tratamento adjuvante, complicações e judicialização. 

Para cada 100 pacientes não diagnosticados, 10% a 20% podem evoluir para estágios avançados, elevando sinistros diretos e indiretos (internações repetidas, home care, reembolsos fora de rede). 

Por que o plano de saúde paga — mas nem sempre percebe? 

As hepatites virais são crônicas, silenciosas, fragmentadas. Não geram surtos visíveis, mas consomem orçamento aos poucos, diluídos entre múltiplos eventos: 

  • Internações repetidas por ascite, hemorragias, infecções. 
  • Procedimentos de alto custo (biópsias, quimioterapias, transplantes). 
  • Reembolsos crescentes por consultas e exames feitos fora da rede. 

Muitas operadoras não enxergam o conjunto, porque o gasto aparece pulverizado em centros de custo diferentes. 

Quem paga menos é quem gerencia de verdade 

Em um contexto de custo médico hospitalar subindo cerca de 14% ao ano, atuar antes da doença avançar é uma obrigação estratégica. 

Soluções reais para reduzir esse custo evitável: 

  • Rastreio ativo na APS: identificar adultos não vacinados contra hepatite B, realizar testagem (HBsAg, anti-HCV) em faixas de risco e integrar com exames ocupacionais. 
  • Painéis de risco: cruzar exames laboratoriais alterados com ausência de protocolo, monitorar elegibilidade para antiviral moderno e adesão terapêutica. 
  • Auditoria clínica real: autorizar tratamentos de acordo com PCDT, evitar exames ou biópsias desnecessárias, monitorar reinternações por complicações. 
  • Contratos inteligentes: atrelar indicadores de qualidade (% de pacientes rastreados, % vacinados, % em tratamento efetivo) à remuneração da rede credenciada. 

Como transformar discurso em resultado 

Muitos gestores ainda veem o controle das hepatites como responsabilidade do SUS. Entretanto, a suplementar também é responsável por custos elevados como: transplantes, hospitalizações prolongadas e ações judiciais. 

As operadoras que já se destacam fazem diferente: 

  • Estruturam Atenção Primária real, com foco em rastreamento ativo e adesão terapêutica. 
  • Implementam modelos de remuneração que premia resultados, não volume. 
  • Integram BI, APS, auditoria e contratos, criando uma linha de cuidado viva, com metas de desfecho assistencial e impacto financeiro monitorável. 

Para sair na frente: Cinco ações práticas 

  • Desenvolver painéis de risco para flagrar exames alterados sem seguimento. 
  • Consolidar a APS como centro de rastreio e educação para risco.  
  • Criar alertas de abandono terapêutico dentro do prontuário eletrônico. 
  • Treinar a rede credenciada para notificar casos suspeitos e conduzir o fluxo correto. 
  • Acompanhar KPIs reais: % de rastreio, % de vacinação HBV em adultos, % de pacientes em antiviral. 

Redução real de sinistralidade 

Em um plano com 100 mil vidas, é razoável estimar que 1% dos beneficiários — cerca de 1.000 pessoas — possam ter hepatite viral silenciosa, sem diagnóstico ou tratamento. 

Desses, ao menos 10% podem evoluir para quadros graves, como cirrose ou câncer hepático, ao longo de 5 a 10 anos. Quando isso acontece, o custo médio acumulado por paciente pode ultrapassar R$ 50 mil, somando internações repetidas, procedimentos de alta complexidade, reembolsos fora de rede e até judicializações. 

Na prática: apenas identificar, rastrear e tratar preventivamente este grupo de risco pode representar uma economia potencial de R$ 5 milhões em sinistros diretos, diluídos ao longo do tempo, mas retirando do passivo assistencial futuros eventos de altíssimo custo. 

Ou seja: a cada paciente tratado no estágio inicial, a operadora elimina um risco silencioso, melhora a previsibilidade de despesas e reduz o peso do sinistro médio futuro, reforçando a sustentabilidade da carteira. 

Gestão ativa em hepatites não é despesa — é um investimento com retorno real em sinistralidade evitada e equilíbrio financeiro a longo prazo. 

A gestão é a melhor vacina contra custos ocultos 

As hepatites virais são um exemplo claro de como o descuido com a gestão de risco impacta silenciosamente o equilíbrio financeiro das operadoras. 
Quando um caso não é rastreado hoje, ele se transforma em uma internação complexa amanhã — mais longa, mais cara, mais judicializada. 
Neste cenário, não basta pagar o sinistro: é essencial antecipar-se, cruzar dados, integrar atenção primária, auditoria clínica e rede credenciada sob uma linha de cuidado viva, com indicadores claros e ações práticas. 

Cada ação de rastreio, vacinação, monitoramento de adesão e capacitação da rede reduz sinistros de alto custo, evita judicializações e fortalece a sustentabilidade da carteira. 

Para o gestor, isso é retorno direto em resultado operacional e previsibilidade de gastos. 

O “Julho Amarelo” é o marco do calendário para sair do discurso de prevenção genérica e implantar ou reforçar a gestão de risco com ações concretas, alinhando APS, auditoria, contratos e BI em uma estratégia integrada de cuidado. Gerenciar hepatites não é despesa extra — é transformar custo invisível em valor assistencial comprovado. 

Artigo por Rogério Ferreira ​, Gerente médico da Qualirede

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