O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é um marco fundamental no calendário brasileiro, representando a resistência e as lutas históricas da população negra.
A data rememora Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do Brasil colonial, que simboliza a luta contra a opressão e a busca pela liberdade. Estabelecida pelo Movimento Negro Unificado em 1978, a escolha deste dia é uma contraposição à celebração do 13 de maio, que marca a abolição da escravatura.
Enquanto esta última é amplamente criticada por negligenciar as consequências da abolição e a falta de reparações, o Dia da Consciência Negra propõe um olhar crítico e transformador sobre as estruturas sociais e raciais do Brasil.
Contextualização histórica e o perigo de uma história única
A história do Brasil é marcada por mais de três séculos de escravidão, um período que moldou profundamente as desigualdades estruturais do país. No entanto, as narrativas dominantes frequentemente silenciaram as vozes negras, apresentando uma visão única e distorcida do passado.
A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, em sua palestra no TED, intitulada “O Perigo de uma História Única” e disponível no YouTube, alerta para os riscos de reduzir culturas e povos a uma única narrativa, que frequentemente desumaniza e estigmatiza. Esse apagamento histórico não apenas perpetua a exclusão, mas também reforça estereótipos que sustentam o racismo estrutural.
A celebração do 20 de novembro busca reverter esse quadro, resgatando as múltiplas histórias de resistência, como as protagonizadas pelos quilombolas, que construíram comunidades autônomas e desafiaram o sistema escravista.
Um exemplo poderoso do impacto das narrativas é o filme 12 Anos de Escravidão (2013), dirigido por Steve McQueen. Baseado na autobiografia de Solomon Northup, um homem negro livre que foi sequestrado e escravizado nos Estados Unidos, o longa-metragem evidencia a brutalidade do sistema escravista e a luta pela dignidade humana.
Assim como as histórias de resistência retratadas no filme, o Dia da Consciência Negra resgata a memória de líderes como Zumbi e reforça a importância de contar as múltiplas histórias de luta e superação.
Cenário atual: desigualdades e vulnerabilidades persistentes
Apesar do avanço nos debates raciais, a realidade brasileira ainda reflete profundas desigualdades. Dados do IBGE mostram que negros ocupam a base da pirâmide social, com menor acesso à educação de qualidade, ao mercado formal de trabalho e a condições dignas de moradia.
Na área da saúde, por exemplo, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), criada em 2009, é um marco importante, mas sua implementação ainda é tímida. Apenas 32% dos municípios incorporaram ações específicas voltadas à saúde da população negra em 2021.
Esse dado reflete a necessidade de maior compromisso com políticas que abordem os determinantes sociais da saúde, como raça, gênero e classe.
A perpetuação do estigma e o papel transformador da consciência
Ao invisibilizar contribuições e reforçar estigmas, o racismo perpetua a marginalização de uma parcela significativa da população. Histórias únicas, que reduzem a população negra a papéis subalternos, desumanizam e criam barreiras para a igualdade.
Por outro lado, histórias também têm o poder de reparar dignidades e construir pontes para o diálogo. O Dia da Consciência Negra é uma oportunidade para confrontar estereótipos e fortalecer a valorização da diversidade. Ele nos lembra que a história do Brasil é incompleta sem o reconhecimento do papel central da população negra na construção do país.
A importância da data e a necessidade de ações concretas
O 20 de novembro não é apenas um dia de memória, mas um convite à reflexão e à ação. Ele chama a atenção para a necessidade de ampliar políticas públicas inclusivas, promover a equidade racial e assegurar a participação da população negra em todas as esferas de poder.
Movimentos sociais têm desempenhado um papel essencial na conquista de avanços, mas a superação do racismo estrutural exige o envolvimento de toda a sociedade.
Ações da Qualirede
No Dia da Consciência Negra, celebramos a força do nosso time, que reflete a riqueza da diversidade que está no DNA da Qualirede. Desde 2022, temos orgulho de carregar o Selo da Diversidade Étnico-Racial da Secretaria de Reparação da Prefeitura de Salvador, um reconhecimento ao nosso compromisso com a inclusão e a equidade racial.
Essa conquista reforça nosso propósito de construir um ambiente de trabalho mais justo e acolhedor, onde a pluralidade de histórias, talentos e experiências é valorizada. Aqui, acreditamos que a consciência não tem cor e que todos têm espaço para brilhar e transformar.
Conclusão
O Dia da Consciência Negra é mais do que uma data comemorativa; é um símbolo de resistência e um espaço de construção de uma sociedade mais justa. Ele nos desafia a repensar narrativas, enfrentar desigualdades e valorizar a diversidade. Como bem pontuado por Adichie, “histórias importam”.
Assim como em 12 Anos de Escravidão, onde uma história resgata a dignidade de um povo e denuncia injustiças, o resgate da memória de Zumbi e da luta quilombola reafirma a importância de contar histórias completas e humanas.
Cabe a todos nós garantir que essas narrativas sejam instrumentos de transformação e construção de um futuro mais equitativo.
Artigo por Ailton Junior– Assistente comercial