No Brasil, os servidores públicos representam uma força de trabalho essencial para a manutenção da máquina administrativa e para o atendimento da população. Porém, essa categoria enfrenta altos índices de adoecimento, em especial ligados a doenças crônicas (hipertensão, diabetes, obesidade, problemas osteomusculares) e a transtornos mentais (ansiedade, depressão, estresse ocupacional). O impacto é duplo: afeta tanto a qualidade de vida do trabalhador quanto a eficiência institucional.
Retrato da saúde do servidor
A faixa etária predominante entre os servidores públicos brasileiros é de 30 a 49 anos (Anuário de Gestão de Pessoas no Serviço Público, 2024), representando mais de 50% da força de trabalho. Entre 30 e 39 anos, surgem os primeiros fatores de risco para doenças crônicas, como sedentarismo, estresse e má alimentação, resultando em condições emergentes. Na faixa de 40 a 49 anos, observa-se um aumento real no diagnóstico de doenças crônicas e suas complicações. Mesmo nos mais jovens, problemas de saúde mental e fatores de risco já afetam a produtividade e o absenteísmo, destacando a importância de estratégias preventivas e programas de saúde direcionados para essa população.
Um levantamento realizado no âmbito do SIASS (Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor) apontou que, entre 2013 e 2023, ocorreram em média 215 afastamentos anuais por motivos relacionados à saúde mental entre servidores federais. Os dados, divulgados em matéria publicada pelo Sintrajufe/RS, reforçam a tendência já observada: os transtornos mentais e comportamentais estão entre as principais causas de licenças médicas no setor público.
Esses afastamentos geram custos humanos (adoecimento, sofrimento, perda de qualidade de vida) e institucionais (absenteísmo, sobrecarga de equipes, queda de produtividade).
O cenário atual: Foco reativo e fragmentado
Grande parte dos programas de saúde destinados ao servidor público ainda adota uma abordagem reativa, entrando em ação apenas após o afastamento ou agravamento da condição clínica. Essa lógica limita a eficácia das ações, que se concentram em respostas tardias, em vez de atuar na prevenção e no cuidado contínuo.
Além disso, observa-se uma fragmentação estrutural nos serviços de saúde voltados ao servidor:
- Ausência de programas estruturados: muitos órgãos não possuem programas organizados de saúde para seus servidores, o que resulta em lacunas significativas no cuidado preventivo e contínuo.
- Variedade na abrangência: os programas existentes variam consideravelmente em termos de escopo e qualidade, com alguns focando apenas em aspectos físicos da saúde, enquanto outros incluem saúde mental, e muitos oferecem suporte limitado ou inexistente.
Essa fragmentação e falta de integração resultam em aumento do absenteísmo, servidores sobrecarregados e, em última instância, perda de produtividade institucional. A ausência de uma abordagem coordenada e preventiva agrava ainda mais o cenário, tornando urgente a necessidade de uma transformação na forma como a saúde do servidor é abordada.
A mudança necessária: Atenção integral e preventiva
A experiência demonstra que a Atenção Primária à Saúde (APS) é a estratégia mais efetiva para transformar o cuidado ao servidor. A Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada do sistema de saúde e representa o cuidado proativo, integral e contínuo, atuando na prevenção, promoção, tratamento e reabilitação.
Estudos clássicos de Barbara Starfield (2002), somados às evidências do Modelo de Atenção às Condições Crônicas de Mendes (2012) e às diretrizes da OMS (2018), apontam que sistemas de saúde com forte APS apresentam:
- melhores indicadores de saúde,
- menores taxas de hospitalização evitável,
- maior eficiência no uso de recursos,
- e maior satisfação dos usuários.
No contexto do servidor, a APS oferece:
- Prevenção ativa: reduz o avanço de doenças crônicas.
- Cuidado integral: físico, mental e social.
- Longitudinalidade: acompanhamento contínuo, e não apenas em momentos de crise.
- Coordenação do cuidado: integração entre diferentes especialidades e níveis de atenção.
Nossa experiência na prática
Por meio de nossas clínicas de Atenção Primária à Saúde (APS), atuamos em instituições como o TRT6, o FISCO Saúde, a ADUFEPE e o Banco Central do Brasil, oferecendo atendimento integral e contínuo por meio de uma equipe multidisciplinar.
O médico de família acompanha o servidor de forma longitudinal, coordenando todo o cuidado. Enfermeiros e técnicos de enfermagem realizam monitoramento clínico e suporte diário. Psicólogos atuam na saúde mental, prevenindo e tratando transtornos como ansiedade e depressão. Nutricionistas orientam sobre hábitos alimentares e condições metabólicas. Por fim, os fisioterapeutas previnem e tratam problemas osteomusculares, promovendo qualidade de vida.
E vão além, ao integrar inovação e tecnologia:
- Telemonitoramento ativo para condições crônicas.
- Programas personalizados de saúde e qualidade de vida.
- Gestão de indicadores em saúde, apoiando os órgãos na redução de afastamentos e no uso mais racional de recursos.
Assim, unimos a ciência da APS com a experiência em gestão em saúde suplementar, entregando um cuidado que não se limita à consulta médica. Mas também promove bem-estar, previne adoecimento e fortalece a sustentabilidade institucional.
O papel do servidor
Você, servidor, é o protagonista dessa transformação. Cuidar da sua saúde não é apenas um benefício individual, mas uma estratégia que fortalece sua instituição e melhora a entrega de serviços à sociedade.
Convidamos você a levar essa discussão ao seu órgão. Ao adotar soluções em APS, como as que já transformam a realidade de instituições parceiras, o servidor recebe cuidado humano, próximo e resolutivo. Já o órgão conquista mais saúde organizacional, menos afastamentos e maior eficiência.
O cuidado integral começa por você. Seja a voz ativa dentro do seu órgão e contribua para construir um ambiente de trabalho mais saudável, sustentável e produtivo!
Artigo por Ailton Silva, Analista Comercial III.