Por Irene Minikovski Hahn – Presidente da Qualirede
Em dezembro do último ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS), foi alertada sobre diversos casos de pneumonia na cidade de Wuhan, na China. Já no início de 2020, autoridades do país identificaram que se tratava de um novo tipo de coronavírus. Os casos começaram a aumentar, espalhando-se por diversos países, fazendo com que a OMS declarasse uma pandemia da doença em março.
Devido a rápida propagação da Covid-19, a OMS recomendou o distanciamento e isolamento social como forma de diminuição do contágio. E o que aconteceu nos dias seguintes mudou e ainda está mudando completamente a rotina das pessoas e também o cenário do setor de saúde em todo o mundo, exigindo novos comportamentos das pessoas e novas tomadas de decisão, do setor saúde.
A telemedicina antes e depois da pandemia
Apontada desde o início como importante aliada contra a pandemia, a telemedicina, que já era utilizada em países como Estados Unidos e Israel, mas no Brasil caminhava a passos lentos, foi regulamentada em caráter emergencial. A alternativa encurta a distância entre médicos e pacientes, não somente hoje, em que vivenciamos um momento de pandemia, mas também no futuro. Imagine aquelas pessoas que moram em locais muito distantes e quando precisam visitar um médico, necessitam percorrer quilômetros ou mesmo andar de barco por muitas horas? Bem, essas pessoas poderão ser amparadas pelo recurso da tecnologia, bastando ser conectada por meio de internet e de um smartphone a um médico, de onde quer que profissional e paciente estejam.
E eu não estou falando apenas de acesso, mas também de desfecho clínico e de economia. Uma pesquisa do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), buscou mostrar o desenvolvimento da telemedicina em diversos países. Na China, por exemplo, um projeto cobriu a área Sichuan, com uma população de mais de 80 milhões de habitantes, entre 2002 e 2013. A intenção foi conectar 249 hospitais especializados em 112 cidades rurais com alguns hospitais urbanos altamente especializados, concentrando-se na realização de teleconsultas. Durante o período mais de 11 mil teleconsultas foram realizadas, principalmente em diagnósticos de neoplasias, lesões e doenças cardiovasculares. Com a medida, 39,8% dos diagnósticos realizados nos hospitais rurais foram alterados após a teleconsulta com os hospitais especializados. Além disso, 55% dos tratamentos originais foram modificados. A economia gerada para pacientes e médicos foi de cerca de US$ 6 milhões, uma vez que não precisaram se deslocar para a realização de consultas ou tratamentos.
E para aqueles que se perguntam: mas como realizar uma consulta totalmente à distância, sem nenhum tipo de contato, como não fazer nenhum exame clínico, como ausculta cardíaca, por exemplo? Tanto o estetoscópio, como outros aparelhos podem ser substituídos pelo smartphone. Com algoritmos de inteligência artificial é possível analisar os batimentos cardíacos e até mesmo detectar possíveis doenças, antes de fazer exames mais precisos.
O papel do médico
Mas qual o papel do médico nesse cenário que está se desenhando? A importância desse profissional não diminuiu de maneira alguma, na verdade só aumenta, uma vez que mesmo amparado por toda tecnologia é ele quem vai analisar todas as informações e precisará compreender, ainda que de longe, o que aquele paciente está sentindo, tendo olhar ainda mais humanizado para poder ajudá-lo.
A revista científica eClinicalMedicine, publicou em 2019 uma experiência do médico indiano Tejas Patel, o cardiologista operou cinco pacientes a 32 quilômetros de distância usando um robô. O feito não seria possível sem a expertise do profissional, o que mostra mais uma vez que a tecnologia é aliada de ambas as partes.
Acesso
A pesquisa Demografia Médica 2018, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), expõe a necessidade de ampliar a assistência no País: 39 cidades com mais de 500 mil habitantes têm 60% dos médicos, os outros 40% atendem o restante da população brasileira. Como mudar esse quadro? Mais uma vez a resposta está na tecnologia, que tem o poder de transpor barreiras e democratizar a saúde. Por isso, a regulamentação da telemedicina, ainda que em caráter emergencial, mudará completamente os rumos do setor, encurtando distâncias e promovendo assistência.