Nota publicada sobre acompanhamento de beneficiários traz insights importantes para o setor
O ano de 2023 trouxe uma interseção entre desafios e oportunidades para a economia brasileira, e esse impacto se estende a diversos setores, incluindo o mercado de saúde suplementar. Uma observação interessante é a relação entre o aumento do estoque de empregos formais e o crescimento no número de beneficiários dos planos de saúde.
A Nota de Acompanhamento de Beneficiários (NAB 84) do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) lança luz sobre essa correlação, revelando insights valiosos sobre o cenário atual da saúde suplementar no Brasil. Neste artigo, faremos uma análise da publicação do IESS e traremos alguns insights sobre os desafios da saúde suplementar.
Cenário Econômico Brasileiro em 2023 e a influência na saúde suplementar:
No início de 2023, a economia brasileira enfrentou uma série de desafios, incluindo a retomada das atividades após os impactos da pandemia de COVID-19 e a necessidade de ajustes fiscais para garantir a sustentabilidade das finanças públicas. Houve, ainda, indícios de recuperação econômica, com projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e redução na taxa de desemprego.
Em junho de 2023, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED apontou uma variação de 4% no estoque de empregos nos últimos 12 meses, com destaque para os setores de serviços, comércio, indústria, construção, agropecuária.
A dinâmica econômica desempenha um papel fundamental na demanda por serviços de saúde, incluindo planos de saúde. Em períodos de maior estabilidade econômica e aumento da renda disponível, as famílias tendem a priorizar investimentos em bem-estar, saúde e qualidade de vida, o que pode impulsionar a busca por planos de saúde.
Instituto de Estudos de Saúde Suplementar publica a 84ª NAB:
O Instituto de Estudos de Saúde Suplementar é uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é promover e realizar estudos de aspectos conceituais e técnicos que sirvam de embasamento para implementação de políticas e introdução de melhores práticas voltadas para a saúde suplementar.
A 84ª NAB publicada pelo IESS registra que em junho de 2023 existiam 50.763.871 beneficiários de planos de saúde médico-hospitalares no Brasil, representando uma taxa de cobertura de 25% da população. Entre junho de 2022 e junho de 2023, houve um acréscimo de 2,2% no número de beneficiários, representando 1.108.995 vínculos a mais.
Analisando o quantitativo de beneficiários por modalidade de operadora, a maioria dos beneficiários está concentrada nas operadoras de medicina de grupo (20.301.077) seguida pela modalidade cooperativa médica (18.802.342). As duas modalidades concentram 76% dos beneficiários. Analisando a variação por modalidade nos últimos 12 meses, houve maior crescimento na modalidade filantropia (4%), seguradora especializada em saúde (3,2%) e cooperativa médica (3,1%). A modalidade de autogestão apresentou decréscimo de 1,7% com retração de 68.297 beneficiários.
A maioria dos beneficiários possui modelo de contratação coletivo (82,4%). Desses, 85,2% eram do tipo coletivo empresarial e 14,8% do tipo coletivo por adesão. Nos últimos 12 meses, houve acréscimo de 2,9% no total de beneficiários de planos coletivos, com alta de 3,8% do coletivo empresarial. A modalidade individual ou familiar representou 17,5% dos beneficiários, com retração de 0,9% nos últimos 12 meses.
Quanto à faixa etária, existe maior concentração de beneficiários entre 19 e 58 anos (61%), seguida pelas faixas de 0 a 18 anos e mais de 59 anos.
Na análise por região do Brasil, houve variação positiva do número de beneficiários nas cinco regiões, com destaque para as regiões Centro-oeste (3,7%) e Norte (3,1%). A região Sudoeste foi a que apresentou maior variação em número absoluto de beneficiários (627.884). Na análise por Estado, o Mato Grosso do Sul apresentou variação positiva de 5,1% e houve retração de 4,2% no número de beneficiários no Amapá. O maior acréscimo em números absolutos ocorreu no Estado de São Paulo (368.607) e o maior decréscimo, no Amapá (-2.616).
Quanto à taxa de cobertura de planos médico-hospitalares por região, foi identificado o seguinte panorama: Sudeste (35,5%), Sul (24,8%), Centro-Oeste (22,9%), Nordeste (12,4%), Norte (10,5%).
Perspectivas relevantes:
A ligação entre o fortalecimento dos indicadores econômicos do Brasil e o aumento na adesão aos planos de saúde suplementar, notadamente no formato de contrato coletivo empresarial, desperta expectativas positivas.
Nesse cenário, vale destacar que todas as regiões do país registraram um crescimento no número de beneficiários, embora tenha ocorrido uma retração pontual em alguns estados.
A tendência à concentração das taxas de cobertura de planos médico-hospitalares nas regiões Sudeste e Sul é uma característica marcante. Esta diretriz acompanha a representatividade demográfica e econômica dessas áreas.
A concentração dos beneficiários na faixa etária de 19 a 58 anos merece destaque, correspondendo majoritariamente à parcela da população economicamente ativa.
É também significativo notar a concentração de beneficiários nas modalidades de medicina de grupo e cooperativa médica.
Estas reflexões, ancoradas nos dados da pesquisa, fornecem um panorama sólido das tendências do setor, revelando direções essenciais para o desenvolvimento estratégico. A compreensão dessas perspectivas pode orientar com sabedoria os esforços para ampliar o acesso à saúde suplementar e atender às necessidades dinâmicas de uma população diversificada.
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Utilizando os dados para atuar de forma estratégica:
Os desafios enfrentados no âmbito da saúde suplementar, como o aumento dos custos acima da inflação, a sinistralidade das carteiras e a judicialização, têm gerado discussões acerca da sustentabilidade do setor. Nesse contexto, a sociedade busca maneiras de promover a viabilidade a longo prazo do sistema de saúde, e a análise dos dados presentes na 84ª NAB emerge como uma ferramenta fundamental para orientar decisões estratégicas.
Explorar e interpretar os insights oferecidos pelos dados da 84ª NAB pode fornecer uma base sólida para aperfeiçoar tanto a experiência dos beneficiários quanto os indicadores do setor. Com base nessa análise, algumas sugestões podem ser elaboradas para direcionar melhorias e inovações:
- Promoção de Saúde em Parceria com Empregadores: O desenvolvimento de programas que fomentem a saúde, em colaboração com empregadores, é uma abordagem crucial para engajar os funcionários na adoção de hábitos de vida saudáveis. Isso não apenas auxilia na prevenção de doenças, mas também contribui para reduzir custos relacionados e elevar a qualidade de vida dos beneficiários.
- Aprimoramento Tecnológico para Acessibilidade: Investir em aprimoramento nas plataformas tecnológicas é essencial para tornar as informações, o agendamento de consultas e os serviços online mais acessíveis. Esse avanço facilita o entendimento dos beneficiários sobre a cobertura assistencial e aprimora a experiência geral da jornada do usuário.
- Telemedicina Avançada para Acessibilidade a Serviços Especializados: A expansão das modalidades de telemedicina desempenha um papel crucial na acessibilidade aos serviços especializados, especialmente em regiões remotas. Essa iniciativa elimina barreiras geográficas, minimizando deslocamentos desnecessários e garantindo assistência equitativa.
- Fortalecimento da Atenção Primária e Regulamentação: Impulsionar ações regulatórias que valorizem a atenção primária à saúde é vital para direcionar os beneficiários ao nível de cuidado adequado. Ao fortalecer o papel da atenção primária como a porta de entrada do sistema, podemos otimizar os recursos e garantir que os pacientes sejam encaminhados ao tratamento mais adequado.
Contribuição estratégica do IESS para o setor:
O Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) reafirma sua importância como uma fonte de informações valiosas para o setor de saúde suplementar, demonstrando mais uma vez seu compromisso estratégico por meio da publicação da 84ª NAB.
Os dados disponibilizados por meio dessa publicação oferecem uma visão esclarecedora das mudanças no perfil demográfico dos beneficiários da saúde suplementar ao longo dos últimos 12 meses. Essa compreensão profunda possibilita o desenvolvimento de estratégias bem fundamentadas, que não apenas aprimoram a experiência do beneficiário, mas também impulsionam iniciativas para promover a saúde de forma proativa e controlar os custos de maneira eficaz.
Ao proporcionar um panorama abrangente e atualizado do setor, a 84ª NAB se destaca como um recurso fundamental para as partes interessadas que buscam alavancar soluções inteligentes e direcionadas. O IESS, por meio de sua dedicação contínua em fornecer informações confiáveis e pertinentes, confirma sua relevância no cenário da saúde suplementar, contribuindo para um futuro mais promissor e eficiente para todos os envolvidos.
Artigo de opinião por Rogério Ferreira
Head de Regulação e Responsável Técnico Médico da Qualirede
Recomendamos a leitura da 84ª NAB na íntegra disponível neste link.