Atenção primária na saúde suplementar: Conhecendo o perfil clínico dos beneficiários para construir um futuro sustentável
A transição demográfica e epidemiológica no Brasil tem trazido desafios significativos para a gestão de saúde. O aumento da expectativa de vida, o crescimento das doenças crônicas e a incorporação de novas tecnologias impõem a necessidade de um modelo assistencial mais eficiente e integrado. Nesse cenário, a Atenção Primária à Saúde (APS) se apresenta como uma estratégia essencial para promover saúde de qualidade e reduzir custos no cuidado de alta complexidade.
Na saúde suplementar, a APS atua como um ponto central para coordenar o cuidado, prevenindo doenças, promovendo saúde e garantindo um acompanhamento contínuo e personalizado. Recentemente, a Qualirede realizou um estudo para traçar o perfil clínico dos usuários acompanhados pela APS, oferecendo dados valiosos para a melhoria contínua dos serviços de saúde e para a formulação de estratégias mais eficazes.
Objetivos
O principal objetivo do estudo foi mapear o perfil clínico dos beneficiários atendidos pela APS, analisando dados demográficos e epidemiológicos em diferentes regiões do Brasil. A pesquisa buscou identificar as patologias mais prevalentes, a complexidade dos casos atendidos e o nível de satisfação dos usuários com os serviços.
Os dados obtidos foram essenciais para avaliar a capacidade da APS em resolver os problemas de saúde no primeiro nível de atenção, reduzindo encaminhamentos desnecessários e otimizando recursos nos níveis secundário e terciário de cuidado.
Métodos
O estudo foi conduzido por meio da análise de dados coletados entre janeiro de 2021 e maio de 2024, abrangendo mais de 8.200 beneficiários atendidos em clínicas de APS localizadas no Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Distrito Federal.
Os beneficiários foram categorizados com base em critérios clínicos estabelecidos para identificar a complexidade de seus casos (níveis leve, moderado e complexo).
Além disso, foi aplicada uma pesquisa de satisfação para compreender a percepção dos usuários sobre os serviços oferecidos. Esses dados permitiram uma visão abrangente da efetividade do modelo assistencial.
Resultados
Perfil demográfico: A população analisada foi composta por 8.295 beneficiários, sendo 53,5% mulheres e 46,4% homens. A maioria (75%) tinha mais de 50 anos, com destaque para a faixa de 70 a 79 anos (30%).
Doenças prevalentes: A hipertensão foi a condição mais diagnosticada, afetando 33,7% dos beneficiários, seguida por diabetes (17,4%) e obesidade/sobrepeso (11,6%). Outras condições incluíram cardiopatias (5%) e doenças pulmonares (2,1%).
Complexidade dos casos: Cerca de 28,6% dos beneficiários estavam no nível moderado de complexidade, enquanto 21,3% estavam no nível leve e 36,1% no nível grave.
Satisfação dos usuários: Os serviços da APS obtiveram uma taxa de satisfação elevada, com 82% dos usuários relatando alto grau de contentamento.
Conclusões
O case destaca o papel crucial da APS na gestão de saúde suplementar, especialmente no cuidado de populações envelhecidas e com alta prevalência de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e obesidade.
Ao resolver 97% dos problemas de saúde no próprio primeiro nível de atenção, a APS demonstrou ser uma estratégia eficaz para reduzir encaminhamentos desnecessários e otimizar recursos assistenciais.
A elevada taxa de satisfação reflete a importância de um cuidado contínuo, integrado e centrado no paciente.
Esses resultados reforçam que a APS não só promove um atendimento de qualidade, mas também contribui para a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar, reduzindo custos e melhorando a experiência do beneficiário.
Com base nos dados apresentados, é possível traçar estratégias que fortaleçam ainda mais a APS, promovendo saúde preventiva e garantindo um futuro sustentável para o setor.
Artigo por Rogério Ferreira, Head de regulação da Qualirede.