Transformando a saúde suplementar através da APS: Como o controle da hipertensão arterial reduz custos e salva vidas
Este case mostra como a Atenção Primária à Saúde – APS pode transformar vidas e reduzir custos na saúde suplementar! Beneficiários com hipertensão acompanhados regularmente apresentaram resultados impressionantes: controle da pressão arterial, menos internações e maior economia.
A APS é o futuro do cuidado sustentável.
Introdução
A assistência hospitalar representa o maior componente das despesas assistenciais da saúde suplementar, contabilizando 45,8% do total em 2020, segundo dados do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).
Algumas hospitalizações são potencialmente preveníveis com a assistência efetiva e oportuna no nível primário de atenção. As internações potencialmente evitáveis podem ser consequência de doenças transmissíveis, como sarampo ou a poliomielite, que podem ser evitadas por vacinação, ou de doenças crônicas, como hipertensão ou diabetes, que podem ser controladas e assim igualmente prescindir da hospitalização.
No Brasil, 54,5% da população apresenta pelo menos um fator de risco relacionado a doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como tabagismo, sedentarismo, diabetes, obesidade, hipertensão, falta de consumo diário de frutas e vegetais e fatores psicossociais, tornando essas pessoas mais propensas a desenvolver uma doença grave.
As DCNT foram responsáveis, em 2019, por 54,7% do total de óbitos registrados, correspondendo a mais de 730 mil óbitos. Destes, 308.511 (41,8%) ocorreram prematuramente, ou seja, entre 30 e 69 anos.
Com o aumento da longevidade e o crescimento da prevalência de doenças crônicas, é provável que haja aumento da demanda por tratamentos e medicamentos para toda a vida, e, também, de internações potencialmente evitáveis com medidas de estilo de vida.
O IESS publicou o texto para discussão nº 87 em 2022 abordando o impacto das hospitalizações potencialmente evitáveis na saúde suplementar e a hipertensão arterial foi uma das principais causas.
Neste estudo, foram evidenciadas 21.436 internações evitáveis (Custo estimado de R$ 433.554.440), sendo 14.387 atribuídas a hipertensão. O custo médio por internação evitada foi de R$ 20.229,84.
A hipertensão arterial é uma das principais doenças crônicas que afetam a população mundial, e sua prevalência tem aumentado consideravelmente. A Hipertensão arterial sistêmica (HAS), segundo dados do Vigitel 2023, foi um diagnóstico presente em 27,9% da população das 27 capitais brasileiras, sendo maior entre mulheres (29,3%) do que entre homens (26,4%).
No contexto da saúde suplementar, a Atenção Primária à Saúde – APS desempenha um papel crucial na identificação, monitoramento e tratamento da hipertensão.
A APS oferece uma abordagem contínua e coordenada, focada na integralidade do cuidado e na promoção da saúde.
Este artigo tem como objetivo analisar o perfil dos beneficiários hipertensos acompanhados pela APS em quatro clínicas de diferentes estados brasileiros, geridas por uma empresa que presta serviços a planos de saúde. Serão apresentados a distribuição do controle da pressão arterial e a de redução de custos com a estimativa de internações evitadas na população estudada.
Objetivos
O principal objetivo deste estudo é traçar o perfil dos beneficiários hipertensos acompanhados pela APS em quatro clínicas localizadas em diferentes estados brasileiros. Especificamente, a eficácia do controle da pressão arterial e a importância do manejo adequado na redução de eventos cardiovasculares e custos assistenciais.
O estudo pretende destacar a importância da APS na gestão da hipertensão, demonstrando como uma abordagem coordenada e contínua pode melhorar os desfechos clínicos dos pacientes.
A APS, ao fornecer cuidados personalizados e monitoramento regular, tem o potencial de melhorar significativamente a qualidade de vida dos beneficiários e reduzir a carga financeira sobre o sistema de saúde.
Por fim, o estudo busca fornecer subsídios para a formulação de políticas e estratégias que visem aprimorar o controle da hipertensão na saúde suplementar, promovendo um modelo de cuidado mais sustentável e focado na coletividade.
Métodos
O estudo foi conduzido através da coleta de dados demográficos e epidemiológicos de beneficiários acompanhados em quatro clínicas de APS, localizadas em diferentes estados brasileiros. Os dados foram coletados entre janeiro de 2021 e maio de 2024, totalizando um período de três anos e quatro meses de acompanhamento.
A população estudada incluiu 8.295 vidas cuidadas durante o período mencionado, dos quais, 2796 beneficiários eram hipertensos. Dentre os hipertensos, 47,9% eram mulheres e 52,1% homens. Entre esses, 1.324 hipertensos estavam sendo acompanhados regularmente na APS.
A eficácia do controle da pressão arterial foi avaliada, categorizando os pacientes como controlados (Até 130×80 mmHg), limítrofes (De 130×80 a 140x90mmHg) ou não controlados (Acima de 140x90mmHg).
Considerando os estudos que mostram que uma redução de 10 mmHg na pressão arterial pode reduzir o risco de eventos cardiovasculares em até 20%, estimamos uma redução de internações de 20% na população com pressão arterial controlada. Para fins de precificação média do custo de internação, foi utilizado o estudo do IESS que estimou em R$ 20.229,84 o custo da internação por causas evitáveis.
Resultados
A população estudada incluiu 8295 beneficiários, com uma distribuição por gênero de 53,51% mulheres e 46,49% homens. Entre as patologias mais prevalentes, a hipertensão foi a mais comum, afetando 33,7% dos beneficiários.
Entre os 2796 beneficiários hipertensos, 47,9% eram mulheres e 52,1% homens. Dos hipertensos acompanhados regularmente na APS, que totalizaram 1324 indivíduos, 59,04% apresentavam controle adequado da pressão arterial, enquanto 20,36% estavam em estado limítrofe e 20,59% não tinham controle adequado.
Estudos mostram que a redução de 10 mmHg na pressão arterial sistólica pode diminuir o risco de eventos cardiovasculares em até 20%. Considerando que 59,04% dos hipertensos acompanhados estavam com pressão controlada, 781 pacientes estariam, em teoria, livres de internações evitáveis por descontrole da pressão ou por complicações relacionadas.
Considerando a redução de 20% de eventos nesta população, estima-se que 156 evento seriam evitados (20% de 781).
Considerando o custo médio de internação estimado em R$ 20.229,84, o custo evitado estimado para os 156 eventos seria de R$ 3.156.759,04.
A prevenção de eventos cardiovasculares e outras complicações associadas à hipertensão resulta em menos hospitalizações, procedimentos invasivos e uso de medicamentos de alto custo. Dessa forma, a gestão eficaz da hipertensão na APS promove a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar.
Conclusões
A análise do perfil dos beneficiários hipertensos acompanhados pela Atenção Primária à Saúde – APS na saúde suplementar revelou resultados promissores na gestão dessa condição crônica.
Os dados demonstraram que 59,04% dos hipertensos acompanhados regularmente apresentavam controle adequado da pressão arterial, um indicador significativo da eficácia das estratégias de manejo adotadas.
Essa taxa de controle é crucial, pois está diretamente associada à redução de eventos cardiovasculares, que são a principal causa de morte no Brasil.
A importância do controle da hipertensão não pode ser subestimada. Estudos indicam que uma redução de apenas 10 mmHg na pressão arterial sistólica pode diminuir o risco de eventos cardiovasculares em até 20%. Na população estuda, foi estimada a redução de 156 eventos com potenciais internações evitáveis.
Além dos benefícios clínicos, o controle adequado da hipertensão também tem implicações econômicas significativas. A prevenção de eventos cardiovasculares e outras complicações relacionadas à hipertensão pode resultar em uma redução considerável nos custos assistenciais.
Com base no custo médio de internação estimado em R$ 20.229,84, o custo evitado estimado para os 156 eventos seria de R$ 3.156.759,04 na população estudada.
Este estudo destaca a eficácia da APS na gestão da hipertensão arterial sistêmica (HAS) e sua contribuição para a saúde suplementar no Brasil. O controle adequado da pressão arterial entre os beneficiários hipertensos acompanhados regularmente na APS demonstra o potencial de um modelo de cuidado contínuo e coordenado.
A APS, ao fornecer cuidados personalizados e monitoramento regular, emerge como uma ferramenta poderosa na luta contra as DCNT, contribuindo significativamente para a melhoria da saúde dos beneficiários e a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar com redução importante de custos relacionados e eventos e internações evitáveis.
Artigo por Rogério Ferreira
Head de regulação e responsável técnico médico da Qualirede