Por Iza Wiggers – Gerente de Relacionamento com a rede e beneficiários da Qualirede.
Como toda atividade humana, nas rotinas dos serviços de saúde, sejam eles hospitais, clínicas ou laboratórios, há riscos iminentes de erros e eventos adversos que podem comprometer a qualidade e o bom desfecho da assistência. Os dados brasileiros são escassos, mas, estima-se que entre 3% a 16% dos pacientes que passam por atendimento sofrem algum tipo de dano, que em sua maioria são evitáveis (BRASIL, 2017), o que é, no mínimo, alarmante.
Várias legislações brasileiras incentivam a implantação de processos que visam mitigar falhas na gestão em saúde, principalmente a RN 267/11, publicada pela Agência Nacional de Saúde (ANS) em 24 de agosto de 2011, que institui o Programa de Divulgação da Qualificação de Prestadores de Serviços na Saúde Suplementar. Felizmente, as discussões sobre a necessidade de melhorar continuamente a qualificação dos serviços está ganhando cada vez mais espaço, e, com isso, percebemos uma gradativa transição das iniciativas dos serviços para um olhar integral do paciente e para a preocupação de gerar valor verdadeiro para esse atendimento de saúde.
Sabemos que o cenário da administração hospitalar é complexo e desafiador, especialmente porque vem recheado de outras preocupações, como o equilíbrio financeiro de todos os atores envolvidos. O uso racional dos recursos disponíveis para a saúde é cada dia mais necessário, e esse também é um aspecto a ser considerado no dia a dia de quem atua em posições de gestão nesses serviços.
Aprimorando os serviços de saúde com programas de Qualificação dos Prestadores
Permeando todo esse contexto, os programas estruturados e continuados de Qualificação dos Prestadores de serviços de saúde se tornam um importante instrumento, uma vez que tem por objetivo identificar e manter na rede credenciada, prestadores com melhor qualidade assistencial e atuar em parceria com estes para a promoção da melhoria contínua de seus processos, e, por consequência, do atendimento aos usuários finais.
Nesses programas, o acompanhamento se dá em ciclos continuados onde o prestador é avaliado e classificado através de instrumentos padrão de avaliação, que consideram a aderência aos requisitos legais vigentes para cada tipo de estabelecimento, as boas práticas em segurança do paciente e os processos implantados, que de forma geral estejam voltados para a melhoria da qualidade assistencial.
Embora não seja o objetivo principal, a consequência natural é a identificação imediata e sinalização de condutas inapropriadas que podem eventualmente acarretar danos aos pacientes caso não sejam revistas, e também auxiliar o prestador na implantação de programas e processos que diminuam a incidência de erros no futuro.
Nesse sentido, é essencial definir rotinas de retroalimentação do prestador avaliado, disponibilizando a ele acesso fácil e rápido as informações que permitam a construção de um plano para atender as recomendações de melhoria. As informações auxiliam não apenas na melhora imediata da qualidade da assistência, como também na capacitação e sensibilização continuada dos profissionais envolvidos, à medida que fornece os insumos necessários para um olhar cada vez mais crítico e voltado para um melhor desfecho.
Programas de qualificação estruturados e continuados, aliados ao acompanhamento de indicadores assistenciais consistentes, podem dar visibilidade aos prestadores que de fato apresentam melhores resultados, o que pode ou não ser utilizado pelas operadoras de saúde na implantação de novos modelos de remuneração, cujos ensaios já podem ser encontrados em diversas regiões do país.
Resultados na prática
Na figura abaixo, são evidenciados os resultados obtidos no Programa de Qualificação aplicado pela Qualirede para uma autogestão em Santa Catarina, após um ciclo completo de qualificação. É possível perceber claramente a migração dos prestadores para melhores qualificações após terem sido acompanhados e apoiados em um ciclo completo, com avaliação inicial (2018), prazo para adequações, e avaliação final (2019).
Como resultado, temos benefícios claros para todos os agentes envolvidos sob o olhar da gestão em saúde: para a sociedade, com entrega de atendimento de melhor qualidade; para os prestadores, destacando os que possuem melhor gestão, melhores iniciativas e melhor desempenho; e para a operadora, que com a melhor qualificação de sua rede credenciada, reduz custos com eventos adversos, erros evitáveis, internações, procedimentos desnecessários, etc.
A difusão dos programas de qualificação
Apesar de sua importância, e de não ser um tema recente, o que se percebe é que, na prática, as iniciativas voltadas para programas de qualificação da rede ainda não estão totalmente difundidas entre os serviços de saúde, seja por ausência de estrutura, ferramentas ou pessoal devidamente qualificado. Alguns conceitos e entendimentos importantes envolvendo segurança do paciente e valor gerado em saúde, por exemplo, ainda não estão equalizados, especialmente nos prestadores de menor porte e nas localidades distantes dos grandes centros, onde ainda é percebida uma carência importante, havendo, portanto, um campo fértil a ser explorado.
Referência citada
Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária Assistência Segura: Uma Reflexão Teórica Aplicada à Prática Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília: Anvisa, 2017.