
Irene Minikovski Hahn, fundadora e presidente da Qualirede
Qual sistema de saúde queremos ter nos próximos anos? É possível ampliar o uso da tecnologia e a qualidade de atendimento e, ainda assim, reduzir custos? Essas questões foram o ponto de partida do seminário QR Content, que reuniu especialistas do setor no último dia 15, em São Paulo. O evento comemorou os 10 anos da Qualirede, empresa líder em gestão de planos de saúde no Brasil, e teve a curadoria do Estúdio Folha.
O cenário atual da saúde inclui envelhecimento da população, aumento da expectativa de vida e o consequente crescimento dos gastos no setor. O SUS (Sistema Único de Saúde) está sobrecarregado, e a saúde suplementar enfrenta os revezes da crise econômica, se mostrando cada vez menos sustentável no modelo vigente – cerca de 170 operadoras de saúde encerraram suas atividades nos últimos cinco anos, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Diante desse quadro, é consenso entre os especialistas a necessidade de ampliar o foco no atendimento primário e cuidar das pessoas antes que elas se tornem pacientes, além de apostar na qualidade dos serviços oferecidos para evitar que problemas mais simples evoluam para a alta complexidade.
“Quando atendemos um paciente dentro da atenção primária (e atendemos 47 mil pessoas em quatro grandes clínicas próprias), ele vem cheio de problemas e dores. Por meio de uma equipe, a gente resolve o problema dele e reduz um monte de custos que deixam de existir. E o mais importante é que o paciente sai feliz”, afirma Irene Minikovski Hahn, fundadora e presidente da Qualirede.
Claudio Lottenberg, presidente do UnitedHealth Group Brasil, concorda e afirma que muitos problemas podem ser resolvidos antes de a pessoa recorrer a um hospital. O médico cita o exemplo da telemedicina. “Vi o resultado do uso da telemedicina em Israel há dez anos, com a diminuição da procura de atendimento hospitalar da ordem de 70%. Dos 30% que chegavam ao hospital, um terço precisava de internação. Ou seja, só casos mais graves e que demandavam atendimento de maior complexidade.”
Os especialistas enfatizaram que tecnologia médica não significa apenas equipamentos sofisticados, importados e de custo elevado. “Às vezes, tecnologia é algo barato, diferente, simples e que muda muito o que estamos fazendo e todos os resultados em saúde”, diz Martha Oliveira, diretora de estratégias e novos negócios da Qualirede.
A telemedicina também é uma das apostas do secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, para reduzir a demanda dos atendimentos de média complexidade do SUS. “A telemedicina, oferecendo atendimento de especialidades, pode ajudar a reduzir o gargalo da falta de especialistas, agilizando o processo e melhorando o atendimento à população.”
Paula Bianca Coelho, CEO da Qualirede, defende a necessidade de inverter a lógica atual, saindo do modelo curativo, centrado na doença e no tratamento, para entregar resultado e geração de saúde.
“Acredito em um sistema de saúde que estimule as pessoas a se cuidarem. Que, ao recorrer ao atendimento público ou privado, tenham sua linha de cuidado definida de acordo com seu risco de adoecer, sabendo o que devem fazer ao longo da vida para que sejam saudáveis. Isso pode ser possível por meio de um sistema que promova de fato a saúde”, afirma.
“O que fazer a gente já sabe. A questão é como fazer acontecer. A gente tem várias experiências em andamento, mas em pequenas iniciativas ainda. Precisamos integrar mais e pensar mais em rede”, conclui.

Denizar Vianna, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde
A aproximação da saúde suplementar -que envolve as operadoras e seguradoras de planos privados- com o SUS (Sistema Único de Saúde) deverá trazer ganhos significativos para os dois lados, seja na avaliação tecnológica de tratamentos e medicamentos, seja no barateamento dos insumos. A afirmação é do secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, Denizar Vianna.
Atualmente, a saúde suplementar atende cerca de 45 milhões de brasileiros. Outros 170 milhões contam apenas com o setor público. Somados, representam um enorme mercado na hora de discutir preços.
“Hoje o processo é todo fragmentado. Estamos trabalhando na melhor forma de ‘casar’ os dois sistemas, pois isso trará benefícios para ambos e é uma grande oportunidade”, afirmou ao abrir o QR Content.
O Ministério da Saúde também está atuando na incorporação e aquisição de medicamentos com maior economia.
Desde março, vem adotando o acordo de compartilhamento de risco para incorporação de tecnologias em saúde.
Nesse acordo, o governo divide com a indústria farmacêutica os riscos de o remédio não ter sua eficiência médica comprovada. Na prática, significa que o governo só paga pelo medicamento se houver melhora do paciente.
Esse novo modelo de aquisição de medicamentos já é usado em países como Canadá, Itália, França, Espanha, Alemanha e Inglaterra.